Tratamento de esclerose múltipla em 2018

Morte e impunidade

O paradigma de tratamento de esclerose múltipla se modificou. Ocorreram 3 movimentos, foram 3 conceitos que ficaram estabelecidos nos últimos anos.
1. Os imunomoduladores tem efeito discreto e limitado. A impressão de que seriam uma maravilha foi um artefato estatístico.
2. Os medicamentos “biológicos”, em especial os anticorpos monoclonais, os “mabs”, tem eficácia, com custo e complicações que mudam a vida dos pacientes.
3. As quimioterapias são o tratamento de esclerose múltipla mais eficiente e menos complicado, incluindo os pré-transplantes e transplantes de células tronco que utilizam a ciclofosfamida.
Tanto os interferons quando o glatiramer acetato diminuem as crises da doença inicial de pessoas jovens. Como não retardam o progresso da incapacidade neurológica, seu papel no tratamento de esclerose múltipla é limitado a casos leves por tempo limitado. É o mesmo caso das pulsoterapias de 3-5 dias com metilprednisolona. Esta última e a azatioprina são os melhores para moças que podem engravidar.
Os “biológicos” podem ser muito eficientes. Grande parte são anticorpos monoclonais, os “mabs”. O natalizumab trabalha no mesmo universo dos interferons e glatiramer, com efeito nas crises. Já o alentuzumab é rival dos transplantes, pode parar completamente doença grave, com algumas infusões ao ano. Porém, sob efeito dos mabs os pacientes se tornam imunodeprimidos crônicos, como transplantados de rim ou portadores de HIV; desenvolvem muitas, inesperadas, graves complicações inflamatórias envolvendo vários órgãos. São encefalites, hepatites, nefrites, hemorragias, tireoidites. Precisam ficar próximos a médicos e instituições que saibam atender estas situações.
As quimiotarepias contínuas, como a azatioprina e o fingolimod, são eficazes nas doenças mais leves e dos jovens. Os pacientes também ficam imunodeprimidos o tempo todo, e tem maior frequência de infecções estranhas, mas é uma situação muito mais benigna que no caso dos mabs.
Os tratamentos mais eficazes, que podem mudar radicalmente a evolução até mesmo de esclerose múltipla progressiva, são as quimioterapias intermitentes, como os transplantes e pré-transplantes de células tronco autólogas hematopoiéticas, baseados na ciclofosfamida. Razões de mercado impediram o progresso neste campo, mas os protocolos eficazes e as indicações clínicas são conhecidos. A vantagem é a qualidade de vida; distante das quimioterapias as pessoas são normais, com o que sobrou da esclerose múltipla, sem imunodepressão.
Melhora funcional neurológica ocorre com os tratamentos de ciclofosfamida e com o alentuzumab. Esta visão breve do tratamento de esclerose múltipla precisa ser anexa a uma ideia do custo, que pode facilmente chegar a meio milhão de reais nos primeiros e críticos anos, no caso dos anticorpos monoclonais e de transplantes mais complexos, como o de Cláudia Rodrigues, cuja eficácia é duvidosa. Mais informação pode ser obtida no ebook Pseudoquimera e autoimunidade, de minha autoria, disponível na amazon.com.br.
Dr Paulo Bittencourt