Os paradigmas de tratamento de doenças mentais e imunológicas se modificaram com a exigência de qualidade de vida. Ocorreu um maior conhecimento das doenças em si; houve desenvolvimento de inúmeros tratamentos de natureza bioquímica no século XX, e de medicamentos chamados de “biológicos” no século XXI. Mais do que nunca é importante a consideração de duas formas radicalmente diferentes dos portadores conviverem com suas doenças, através de prejuízo em sua qualidade de vida. Existe a qualidade de vida alterada pela doença, e a qualidade de vida relacionada com o tratamento.
Clinica e geneticamente as doenças são mais conhecidas, e especialistas podem separar quais sintomas são da doença e quais são dos medicamentos. Tanto em doenças imunológicas quanto nas mentais este conhecimento intriga e não é bem aceito por portadores e familiares. A população já conhecia de casa e da escola os paradigmas de infecções e tumores: pus, febre e massas tumorais são visíveis. As doenças mentais e imunológicas causam pleurites, nefrites, mielites, neurites, visões duplas, fraquezas musculares, alucinações, distúrbios da percepção da realidade, brabezas, delírios, crises de falta de conhecimento e de memória.
A vontade de melhorar faz com que portadores e familiares tenham uma forte tendência a achar que tal sintoma é causado pelo tratamento, quando na verdade pode ser sinal de uma nova fase da doença. Portadores e familiares tendem a fazer uma relação temporal direta de sintomas com eventos. Como se lanche causasse turbulência de aviões. Nos tempos antigos tudo era correlacionado com as estações, a lua e a menstruação. Antidepressivos e estabilizadores do humor podem demorar semanas e dependem da tomada contínua para funcionar. Antidepressivos e benzodiazepínicos aceleram a bipolaridade, um fenômeno anti-lógico e difícil para não-especialistas perceberem. Benzodiazepínicos vão perdendo efeito semana a semana.
Consultas tem efeito por si, são uma forma de psicoterapia, principalmente quando incorporam os conceitos de terapia comportamental cognitiva. Médicos miram remissão prolongada enquanto portadores e familiares alvejam “cura”. Na palavra cura vem embutida a esperança de que desapareçam as sequelas estabelecidas da doença. Já remissão se restringe ao processo fisiopatológico que faz a doença progredir. Muitas pessoas com doenças que já desapareceram, estão em remissão muito prolongada, permanecem paraplégicas, tem suas juntas deformadas por artrite reumatoide, ou suas vidas profundamente alteradas por anos de instabilidade bipolar.
O sistema de saúde e social não protege estas pessoas, cuja padroeira é Santa Dimpna.
Os leques da bipolaridade e das doenças imunológicas abriram-se muito em 20 anos por que ajudam muito. Mais informação pode ser obtida nos livros e ebooks Fora da casinha, Quando o erro médico é obedecer ao paciente, Pseudoquimera e autoimunidade, de minha autoria, disponíveis na amazon.com.br.
Dr Paulo Bittencourt