Esclerose múltipla na gravidez e o efeito nas crianças

O tratamento de esclerose múltipla na gravidez e as consequências para os bebês é assunto de muita discussão, tendo em vista que mulheres com potencial de gravidez são exatamente o grupo mais frequentemente envolvido na doença. Muitas vezes são meninas ainda, ou jovens mulheres, quando ainda tomam decisões baseadas em um equilíbrio dinâmico entre suas vontades, dos pais e dos parceiros. Existem dados já estabelecidos de que a intensidade da doença diminui, pouco, durante a gravidez. E aumenta, mais, no período pós-parto. Na verdade, o risco de um surto de esclerose múltipla triplica no período imediatamente após o parto, e ainda é o dobro da gravidez ao fim do primeiro ano pós-parto.

Um grande estudo americano foi publicado, envolvendo 50 mil mulheres com esclerose múltipla e 3 milhões de mulheres sem a doença utilizadas como controle. Foram avaliadas um total de 2158 gravidez. Todos estes dados foram pesquisados eletronicamente pelos prontuários e pelo uso de planos de saúde.

No período do estudo, de 2006 a 2015, ocorreu um aumento da frequência de gravidez nas mulheres com esclerose múltipla, enquanto nas outras mulheres a frequência diminuiu. A explicação é que maior informação levou a um empoderamento das mulheres jovens, e facilitou as decisões das portadoras. A mesma deve ser a explicação para a idade média de engravidar ser 2-3 anos maior nas portadoras do que nas mulheres em geral.

O que preocupa sobre os achados deste estudo de esclerose múltipla em gravidez é que ocorreram mais complicações para as mães e para as crianças. Tratamento de anemia e de infecções urinárias pode ter sido responsável por dano fetal. Somente 20% usaram inteferons ou natalizumab no ano antes de engravidar, e 28% no ano após. Os autores argumentam que estas decisões, de evitar tratamento da esclerose múltipla antes e depois da gravidez, enquanto amamentam, é errada e reflete muito mais medo e preconceito do que realidade científica. Resulta em mais complicações, que exigem atendimento, muitas vezes por não-especialistas, e nas complicações achadas nas mães e nas crianças.

 

Paola Cavalia and Wendy Gilmore. Neurology 2018; 91:771-773

Houtchens et al. Neurology 2018:91:e1559-1569

Houtchens et al. Neurology 2018:91:e1570-e1578

 

Dr Paulo Bittencourt