O que é autismo ou transtorno do espectro autista

autismo ou transtornos do espectro autista

O autismo ou transtorno do espectro autista é um transtorno global do desenvolvimento, e inclui 3 itens: comprometimento grave e global em diversas áreas do desenvolvimento, como interação social recíproca; comprometimento das habilidades de comunicação; e estereotipias de comportamento, interesses e atividades. Os prejuízos acarretados pelo autismo ou transtorno do espectro autista representam um desvio acentuado em relação ao nível de desenvolvimento ou idade mental do indivíduo. O comprometimento é amplo e persistente. Ou seja, é sempre o mesmo, não varia muito com o que ocorre no ambiente. Contato visual direto, compreensão e expressão facial, de posturas e linguagem corporal, estão comprometidos, assim como noção do outro, como na percepção das alegrias, necessidades e sofrimento dos outros. Existe prejuízo em prazer compartilhado, jogos e interação social.

Pode haver atraso grave e persistente da fala, a linguagem verbal, seja completo ou com uso estereotipado de um repertório restrito de palavras ou expressões. A compreensão é comprometida. São crianças que não imaginam, não fazem de conta, não usam brincadeiras imaginativas, jogos de imitação. Quando o fazem, é de maneira limitada e estereotipada. Existem rotinas, rituais, maneirismos. Muitos comportamentos são disfuncionais, ou seja, não cumprem sua função e não ajudam no dia a dia da criança. Ao contrário, prejudicam o fluxo do dia a dia, o aprendizado e o desenvolvimento.

Estas crianças são diagnosticadas em torno dos 3 anos de idade, e antes nunca tiveram um longo período de desenvolvimento normal. Retardo mental é comum em autismo ou transtorno do espectro autista, embora possa variar de intensidade. Muitas crianças desenvolvem alguma habilidade específica isolada, que parece incompatível com a situação geral. Podem existir comportamentos muito anormais, como agitação, desatenção, impulsividade, agressividade, autoagressão. Ocorrem ataques, acessos, crises de piora destes comportamentos, muitas vezes em reação a algum estímulo ambiental, até com luzes, odores e ruídos usuais. Também podem ocorrer episódios de fascinação com alguns destes estímulos.

Esta foi a posição diagnóstica bem estabelecida e cristalizada no chamado DSM-4TR, e o paradigma do autismo assim permaneceu até 2010-2015.

Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 4ª edição, Texto Revisado. DSM-IV-TR. American Psychiatric Association. Associação Brasileira de Psiquiatria. Artmed, Porto Alegre, 2002.

Em 2015 esta situação mudou, com a adoção do termo TEA, transtorno do espectro autista, que cobre no DSM 5 um grupo mais amplo de situações. O CID-11, Classificação Internacional das Doenças de janeiro de 2021, define o TEA como déficits na habilidade individual para iniciar e manter comunicação social, e comportamento restrito e repetitivo, atípico para a situação e idade. Embora ligado à primeira infância, os sintomas podem ficar claros mais tarde, quando cresce a interação social. Ocorrem impedimentos em situações pessoais, de família, sociais, educacionais, ocupacionais, em pessoas que variam de independentes e até privilegiadas, para as muito comprometidas que necessitam intervenção e apoio de longo termo. O diagnóstico continua ocorrendo em torno dos 3 anos de idade, mas pode ocorrer até o início da vida adulta.

Os sinais do TEA no DSM 5 continuam sendo os mesmos do autismo até o DSM-4TR: comportamentos estereotipados, sensibilidade a materiais, dificuldade com mudanças na rotina, interesse reduzido nos outros, contato visual e social limitado.   O DSM-5 foi aprovado pela Associação Americana de Psiquiatria em 1.12.2012, e publicado em 18.05.2013. Foi a primeira grande mudança em 20 anos. Entre as mudanças importantes estão justamente as de esquizofrenia e autismo, que tiveram seus subtipos deletados, e sua intensidade dividida em leve, moderada e grave. A intensidade é definida pelo dano observado nas comunicações sociais e comportamentos repetitivos, em 3 níveis: requerendo apoio, requerendo apoio substancial, e requerendo apoio muito substancial. Ou seja, se um jovem ou uma jovem chegou a começar a vida profissional, foi admitido a um curso universitário ou técnico, talvez não entre nem no diagnóstico de autismo leve.

Esta mudança no paradigma de diagnóstico de autismo e esquizofrenia sacramentada em 2010-2015 já era prevista por avanços em genética de doença mental, ocorridos no fim do século XX. Estabeleceu-se o conceito que todos nós carregamos uma genética de bipolaridade, que pode ser forte e já emergir como autismo ou transtorno do espectro autista na primeira infância. Menos intensa, a carga genética pode emergir como esquizofrenia na adolescência. Ainda menos intensa se manifesta como bipolaridade, depressões e ansiedades, obsessões e compulsões, durante a vida. A gravidade do problema de cada pessoa depende da carga genética e das complicações que a pessoa vai acumulando. São atrasos educacionais, pedagógicos, sociais, de emprego e constituição de família, alcoolismo, uso de drogas e substancias, conflitos, as comorbidades das doenças mentais.

Dr Paulo Bittencourt