As consequências do coronavírus na comunidade podem ser atenuadas por medidas que o Centers for Disease Control americano colocou em um manual com o conhecimento adquirido com as epidemias de influenza e SARS, e estudos realizados sobre ações comunitárias em vários países. Infelizmente, foi justo no EUA que estas medidas não foram aplicadas. A figura principal mostra o resultado da maluquice maligna de Donald Trump. A curva que não pára de subir é a dos EUA. As do meio são europeias – Itália, França e Espanha, e as de baixo dos países orientais e Dinamarca.
O gráfico abaixo mostra o efeito hipotético da adoção das manobras corretas de atenuação de epidemia.
https://www.cdc.gov/mmwr/volume
Médicos e outros profissionais da saúde chamados de epidemiologistas ou sanitaristas fazem experimentos controlados, por exemplo comparando as taxas de contágio observadas em comunidades que fecharam escolas ou instruíram as pessoas para permanecerem distantes uma da outra. Também já foi intensamente estudado se vale a pena lavar a mão corretamente ou usar líquidos sanitários equivalentes ao álcool gel. Porém, os profissionais e políticos da saúde precisam captar que o problema existe. Demorou para cair a ficha no Brasil, como nos EUA. São necessárias atitudes pró-ativas e preventivas. Higiene das mãos com lavagem é superior aos líquidos disponíveis como álcool gel. Máscaras impedem que pessoas doentes espalhem o vírus, e agora estão sendo recomendadas como preventivo, mesmo por quem não está doente.
As autoridades que devem resolver as ações sobre a ocorrência do coronavírus na comunidade são as da saúde. É óbvio agora que os países que melhor se deram foram os que seguiram os princípios básicos da epidemiologia e saúde pública, expressos no manual do CDC mencionado acima, além de todas as orientações da Organização Mundial da Saúde. Quando a epidemia tornou-se iminente aglomerações foram desestimuladas, com orientação de que as pessoas permaneçam a dois metros umas das outras, sem contato físico, tentando não colocar a mão nas coisas nem levar a mão ao rosto inteiro. Colocar máscaras causa falta de máscaras. Apareceram então as máscaras de tecido. Conforme a epidemia foi chegando aglomerações são proibidas, até chegar no bloqueio total aplicado em Wuhan e na Coréia, depois no Japão e Europa.
As experiências dos vários países são didáticas e se refletem na figura principal. Os primeiros casos foram diagnosticados em 17-18 de novembro de 2019, mas tudo permaneceu abafado até explodir a epidemia em 10-15 de janeiro – dois meses depois. Na China e países vizinhos, mais de 180 milhões de crianças ficaram sendo ensinados em casa através de celulares e vários tipos de computadores. A impressão internacional é que a China foi bem em suas ações comunitárias. O pico da epidemia passou no início de março, outros dois meses depois. Agora eles combatem pequenos surtos assim que aparece um caso, fazendo o que se chama de busca ativa e isolamento de contatos, um mecanismo de prevenção de epidemias pouco conhecido e pouco utilizado no Brasil, mas o único eficiente. Entre nós, atualmente, é considerado coisa de esquerdistas, principalmente entre os terraplanistas.
A China é uma ditadura totalitária, todo mundo obedece orientações e ordens. Os países orientais tem civilizações antigas e mais obedientes que em nosso Novo Mundo. Os países europeus tem sistemas de saúde públicos que abrangem toda a população mesmo, não como nosso SUS e o Medicare americano, que atingem uma porção da população mais pobre. Na África quase não existe estrutura para ser mobilizada. Nos EUA e Brasil o sistema da saúde é privado. Mesmo no sistema público os profissionais recebem por procedimento. Não são sistemas de saúde, e sim de doença, não sabem fazer prevenção. Na prática, nem temos epidemiologistas. Temos profissionais que lucram com a doença e políticos, que tomam atitudes ideológicas. Donald Trump passou dois meses fazendo reuniões com empresários e Bolsonaro é terraplanista. O Ministro Mandetta se revelou um médico de verdade: tardiamente, usou as armas disponíveis.
Como nos EUA, no Brasil enfrentamos epidemias que se desenrolam de maneira diferente nos vários estados. É muito previsível que as nossas serão piores que as de Wuhan, Iran e Itália, onde a atenuação chegou um pouco tarde. Além de chegar tarde, nossa atenuação vem confusa. É transmitida com linguagens e agendas diferentes. Em um mundo perfeito, como nos países orientais, Alemanha e Dinamarca, que são as curvas baixas da figura principal, o pico deveria durar 4 meses, nosso outono e inverno. Com a cacofonia política instalada no Brasil, vai ser muito pior que isso.
Alemanha, Dinamarca e países orientais menores, em especial a Coréia do Sul, tiveram sucesso em aplainar o pico da epidemia do gráfico lá em cima devido ao lockdown – fechamento de tudo – associado à busca ativa com exames de todos os contatos, e seu isolamento. Esta segunda parte nunca fez parte dos plano americano ou brasileiro. No Brasil ninguém nem fala nisso. As pessoas e autoridades parecem achar que devem testar em bloco, um bairro, uma comunidade, o que não resolve o problema epidemiológico. Isso já foi tentado em pragas medievais, isolava-se a realeza, ou a nobreza de cada região, e não adiantava.
Na Escócia, Irlanda e Austrália tivemos testes por drive-through, que minimizam contato. No Reino Unido existem clínicas separadas para suspeitos e doentes de coronavírus, como o hospital que os chineses construíram em dias. Um paciente chegando a um hospital ou posto de saúde contagia muitas pessoas. Assim, as pessoas devem procurar atendimento calmo, agendado. O hospital específico dos chineses seguiu o mesmo pensamento do hospital curitibano que colocou um container no seu estacionamento na epidemia de influenza H1N1 em 2009-2010. No Brasil de 2020 grandes hospitais são procurados pela população através de seus sistemas de saúde. O risco é contaminar todo mundo que está lá, inclusive e justamente quem precisa atender os doentes. Hospitais e postos de saúde viraram usinas de retransmissão de coronavírus. Eu, pessoalmente, nem consigo imaginar no que vai dar isso. Talvez resulte em hospitais fechados por falta de profissionais e interditados para lavagem e desinfecção, justo quando vamos precisar de mais leitos.
As duas característica do coronavírus na comunidade são o contágio muito fácil e a mortalidade para idosos, portadores de outras doenças, as co-morbidades, e doentes crônicos. Daí a necessidade de extremo isolamento dos profissionais que atendem doentes.
Decisões estratégicas como fechar escolas, restaurantes, shoppings, tem consequência. Calculavam os britânicos que 20% da força de saúde, policial ou de bombeiros poderia ficar incapacitada; a realidade é pior. Em muitos locais 30% dos profissionais da saúde já foram contaminados. Portanto, a primeira providência é a composição de uma sala de guerra, com uma equipe dedicada à epidemia de coronavírus na comunidade. No Brasil, a equipe do ministério da saúde vai ser trocada agora, como trocar o piloto de um jato de guerra em pleno bombardeio. As recomendações ainda são confusas. No meio de abril, sabemos que o número real de infectados pode ser entre 10 e 20 vezes maior que os das estatísticas. Agora talvez nem adiante mais fazer busca ativa e isolamento de contatos, porque circula o coronavírus na comunidade. O número de pessoas para fazer busca ativa e isolamento é enorme. A única atitude possível por parte das autoridades é o lockdown, O fechamento progressivo do país em março pode ter tido um efeito parcial, aplainando o pico da epidemia. Com o coronavírus na comunidade, a saída é se isolar como aqueles pacientes que fazem transplante. Para circular por aí precisa touca, máscara e luvas. Depois, banhos e trocas de roupa quando estacionamos em um certo ambiente.
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