Quem imagina TDAH em meninas? Quando alguém imagina uma criança com TDAH, o que vem a sua mente provavelmente é um menino, em idade escolar, fazendo muita bagunça em sala de aula. Ele não consegue parar na cadeira, às vezes até sobe nela. Ele interrompe a professora o tempo todo para assuntos que não são ligados a matéria. Ele pode ser um pouco violento, pode ser o palhaço da turma.
Esse é o estereótipo que é a causa da porcentagem de meninos serem mais diagnosticados, com uma frequência errônea e alta demais, e meninas deixadas no canto, fora da equação. Não se pensa em TDAH em meninas.
Aliás, essa é mais ou menos a imagem da menina com TDAH. Ela é a menina desatenta, que passa o dia rabiscando no caderno. Ela esquece de entregar os deveres de casa, não sabe o que os professores acabaram de explicar. Ela explode em crises de choro, é impulsiva e não consegue manter um grupo de amigos com facilidade. Ela é dócil. Os professores gostam dela. Os pais reclamam de sua desorganização, mas no geral, ela não causa problemas.
Na verdade, existem três subtipos de TDAH: existe o tipo hiperativo, que é aquele estereótipo comentado. Existe o tipo misto, que é a criança desatenta, mas que pode ter explosões de energia e impulsividade, e existe o tipo inatento, que é o caso de grande parte das meninas. Não é que uma menina não possa pertencer ao tipo hiperativo e um menino ao tipo inatento, é só que existe uma prevalência comprovada entre os gêneros e as tipagens.
Meninos, ao falharem, costumam explodir e culpar o exterior, meninas já trabalham no processo de se culparem e não se acharem boas o suficiente. Na adolescência, com as mudanças hormonais, elas se voltam cada vez mais para dentro: no TDAH em meninas elas são mais propensas a apresentarem comorbidades, como transtornos de humor, transtornos de ansiedade e transtornos alimentares.
O estudo “”Prospective Follow-Up of Girls With Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder Into Early Adulthood: Continuing Impairment Includes Elevated Risk for Suicide Attempts and Self-Injury.” realizado por Hinshaw et al. concluiu que garotas com TDAH têm maior risco de tentativa de suicídio e de automutilação no início da vida adulta. Muitas mulheres são diagnosticadas apenas depois dos trinta anos, quanto sucessivos tratamentos não funcionam ou não chegam a raíz do problema.
Bruna Correa Antochevis Machado
Referências:
https://www.sbmfc.org.br/desfechos-na-idade-adulta-associados-a-tdah-em-meninas/
https://tdah.org.br/tdah-em-mulheres/
https://ajp.psychiatryonline.org/doi/full/10.1176/appi.ajp.2009.09050736