Vacinas de COVID 19 disponíveis e doenças imunológicas

Vacinas de COVID 19

Existem muitas questões prementes sobre vacinas de COVID 19. Eu posso tomar vacina de COVID 19? A Coronavac ou a vacina da Oxford são seguras? Algumas das vacinas é uma vacina viva? Qual é o tempo e a amplitude da imunidade das vacinas? Estas perguntas devem ser dirigidas aos profissionais de saúde que atendem os portadores de esclerose múltipla, lupus, artrite reumatóide ou outras doenças imunológicas, mas algumas afirmações podem ser feitas de maneira generalizada. Aqui estão respostas, atualizadas em 4.04.2021.

Posso tomar vacina agora?

Como previsto, pacientes que vivem em abrigos e lares, institucionalizados, foram os vacinados nos meses de janeiro e fevereiro, assim como profissionais da linha de frente de enfrentamento da pandemia, e algumas populações frágeis, como índios. Em março embalou a vacinação de idosos, mas a de profissionais da saúde foi interrompida pois tornou-se corrupta, eleitoreira. Ambas estão indo lentamente, e deve continuar assim em abril e, acredito, em maio. Começaram a ser mencionadas as populações de risco, mas esta promete ser uma área de muita confusão. Sabe-se que mais da metade dos brasileiros são obesos, por exemplo. Outros 20% acham que tem doenças reumáticas. Imagino que as autoridades são vão mexer neste vespeiro quando tiveram mais vacinas, o que significa mais para junho, julho, talvez agosto. Em resumo, não há necessidade de procurar as vacinas. Os órgãos públicos virão a você. Pelo menos este é o plano. As vacinas estão chegando ao Brasil de maneira irregular; são vacinas diferentes, e serão aplicadas de acordo com uma lista de prioridades.

Quais vacinas podem chegar ao Brasil?

A Coronavac, que se chama Sinovac na China, introduzida no Brasil pelo Instituto Butantã, de São Paulo, é a principal responsável pela imunização no Brasil. Porém, não consta das avaliações mais científicas realizadas na Europa e EUA. A Oxford, de origem britânica, está sendo introduzida no Brasil pela Fiocruz, baseada no Rio de Janeiro, muito mais lentamente. A Oxford é produzida pela Astra Zeneca, uma multinacional, e tem uma de suas grandes fábricas na India. Ambas usam um princípio ativo, o IFA, fabricado na China.

Outras vacinas podem chegar ao Brasil. As da Moderna e da Pfizer precisam ser armazenadas em freezers a -75°C, que existem em universidades, grandes laboratórios de análises clínicas, e em cooperativas agrícolas, onde são utilizados para guardar sêmen animal. Estes freezers estão cheios de material. A vacina russa Sputnik V pode ter uma evolução mais rápida, pois seus direitos foram adquiridos por uma empresa privada brasileira, a União Química, que talvez tenha mais agilidade nas negociações com o Ministério da Saúde e ANVISA. Tanto britânicos como alemães tem tentado se associar à Sputnik V, o que pode indicar que enxergam bom potencial. Já está sendo fabricada em território nacional, mas atropelou as fases de pesquisa exigidas por organismos como a ANVISA, e não se sabe o que vai ocorrer. A vacina da Janssen promete ser top de linha, inclusive com aplicação em dose única, mas não chega antes da metade do segundo semestre.

Quando poderei me vacinar?

Conseguir ser vacinado neste primeiro semestre de 2021 variou, especialmente pela pouca disponibilidade de vacinas, devido a uma situação política nebulosa, indefinida, dominada por lutas de poderes. O mais provável é que a maior parte da população seja vacinada no segundo semestre de 2021 e em 2022. Eu diria que os meses de abril a setembro serão suficientes para terminar os idosos e professionais da saúde. As pessoas dos grupos essenciais, que já incluem professores e policiais, assim como as pessoas de 14 a 65 anos de idade com comorbidades, serão vacinadas após setembro de 2021. Até lá, é possível que as vacinas da Pfizer e Moderna, talvez da Janssen, estejam disponíveis em clínicas privadas. O restante da população terá então que disputar as vacinas com a necessidade de revacinar todo mundo, um problema que mesmo os mais avançados nesta área, EUA e Reino Unido, ainda nem começaram a discutir.

E esta confusão de vacinas diferentes, no que posso confiar?

Lembre que vacinas só são aprovadas para uso quando passam por testes muito robustos de segurança e eficácia. Estes processos foram executados de maneira muito mais rápida nesta pandemia devido à seriedade da situação. A recomendação é que as pessoas confiem em suas instituições e tomem vacinas assim que possível. Não só para se proteger, mas também pelo sentido de coletividade. É a única maneira de contornar a pandemia mais rapidamente. O processo científico e técnico de produzir vacinas dura anos. No caso da COVID 19 tudo foi feito mais rápido. Porém, a ciência e os métodos industriais e laboratoriais progrediram muito e permitem este avanço tecnológico. 

O fato de existirem vacinas diferentes é positivo. Com o tempo saberemos quais são mais eficientes para qual situação, como ocorreu com todas as vacinas já existentes. O interesse dos organismos nacionais e internacionais é coletivo, visam resolver os problemas como a pandemia com o menor custo, para que mais vidas possam ser salvas e a sociedade possa viver normalmente. Talvez, com o tempo, se descubra que certas vacinas são melhores para uso periódico, cada tantos anos, ou em certas populações, como idosos, mulheres grávidas, portadores de câncer ou de doenças imunológicas, e assim por diante. Talvez, certas vacinas sejam mais simples de guardar e utilizar, e possam ser mais apropriadas para países pequenos, ou grandes, com diferentes realidades em seus sistemas de saúde.

As vacinas Coronavac, Oxford, Moderna, Pfizer, Sputnik, Janssen, são seguras?

Sim. Nenhuma da vacinas é viva, ou mexe com a genética da pessoa. A Coronavc, Oxford e Sputnik são tradicionais. Podem até não ser tão eficientes no caso de cada pessoa, mas não vão fazer mal a ninguém. As vacinas da Moderna e da Pfizer usam uma tecnologia mais moderna, chamada de RNA mensageiro. Porém, quem lembra das aulas de Biologia do ensino médio, sabe que o RNA mensageiro não entra nas células, portanto não tem como mexer na genética ou no DNA das pessoas, que fica no núcleo da célula.

A vacina Oxford, da Astra Zeneca, usa uma parte de um vírus que causa um resfriado comum em chimpanzés, com seu código genético mudado, para produzir uma resposta imunológica sem causar doença. É uma tecnologia chamada de “vetor”, que contém a informação de uma parte do coronavírus, a chamada proteína spike, que o coronavirus utiliza para entrar nas células. Esta proteína é reconhecida pelo sistema imune da pessoa e previne a COVID 19. O relato de tromboses intracranianas com a Oxford deve preocupar as autoridades, não cada pessoa isoladamente. Parece ser um problema real, mas que afeta algumas poucas pessoas, menos de 5-10 por milhão de vacinados.

Vacinas vivas contém uma versão atenuada do vírus que pretendem prevenir. São as mais antigas de todas. Um exemplo é a de febre amarela. Estas vacinas devem ser evitadas por pessoas que fazem quimioterapia, tomam corticoide ou muitos dos medicamentos biológicos disponíveis hoje em dia para tratamento. As vacinas de COVID 19 não são vivas.

As vacinas de COVID 19 ainda não foram testadas em pessoas com esclerose múltipla ou outras doenças imunológicas. Mas muitas pessoas já receberam a vacina nos EUA e Europa, logo teremos seus testemunhos e artigos científicos sobre o assunto.

Qual o tempo e qual a amplitude da imunidade das vacinas?

A resposta simples é que as vacinas existentes conferem imunidade parcial durante vários meses. Talvez de 6 a 12 meses. Talvez o melhor seja cada um de nós entender que as vacinas não conferem proteção pessoal absoluta. Sua maior vantagem é coletiva, diminuir a transmissão comunitária do coronavírus, e assim terminar a pandemia, mesmo que seja com vacinações múltiplas e repetidas. A outra grande vantagem é diminuir os casos graves, as hospitalizações, internamentos em UTI e mortes.

Os neurologistas britânicos publicaram uma posição sobre vacinação de portadores de doenças neuroimunológicas. Foi utilizado para produzir a primeira versão deste texto, adaptado ao Brasil de janeiro de 2021.

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Dr Paulo Bittencourt