O desenvolvimento científico e evolucionário da teoria da mente e comportamento desde que aparece no século 18 até seu controverso estado atual é revisado com extremo detalhe por Robert J. Richards em um volume de 718 páginas inicialmente publicado em 1989 na série Science and its Conceptual Basis. “Darwin and the emergence of evolutionary theories of mind and behaviour” inicia com as controvérsias sobre inteligência e instinto animal, a interpretação sensacionalista de Erasmus Darwin sobre instinto e evolução, e sua revisão por Cabani. Segue com o conceito de Lamarck de que comportamento é um instrumento e um produto da transformação das espécies, e a reação do Musée d’Histoire Naturelle.
As ideias de Charles Darwin no século 19 são particularmente importantes para a teoria da mente. Segundo a wikipedia em inglês, o maior pomo de discórdia na questão da evolução na verdade era se as faculdades mentais humanas podiam realmente ter evoluído. A diferença entre humanos e o macaco mais esperto ainda era grande demais, mesmo para os que eram simpáticos com a Teoria de Darwin. Alfred Russel Wallace, que era companheiro de Darwin na descoberta da evolução por seleção natural, acreditava que a mente era complexa demais para ter evoluído gradualmente, e passou a compartilhar a teoria da mente com o espiritualismo. Darwin ficou transtornado pela mudança de Wallace, e muito do Descent of Man é resposta a opiniões de Wallace. Darwin foca mais na demonstração de que habilidades de cada faculdade humana considerada muito além das animais, como raciocínio moral, simpatia por outros, beleza e música, pode ser vista em outras espécies animais, como macacos e cachorros, talvez em menor quantidade que em humanos, mas com a mesma natureza.
Charles Darwin compôs ensaios muito completos de um pensador evolucionário trabalhando com a teoria de mente e conclui que a mudança das espécies é relacionada com instinto. Seguiu com suas observações sobre as raízes do pensamento racional e a evolução da moralidade. Richards então penetra no campo de como a teologia natural, os pensamentos de religião, contribuíram para a Teoria de Darwin sobre a Evolução da Mente e Comportamento, e nas disputas dos teólogos naturais sobre instinto e inteligência. Emerge então uma Teoria de Darwin para a Mente e o Comportamento. Ainda na segunda metade do século 19, com o Origem das Espécies já publicado, ocorreram debates sobre a razão humana e o senso moral, incluindo o desafio de Wallace ao espiritualismo. É na sua obra mais tardia, The Descent of Man and Selection in Relation to Sex (A descendência do homem e a seleção relacionada com sexo), de 1871, que Darwin discute em detalhe estas questões, inclui psicologia e ética, e a importância da seleção sexual e escolha do parceiro, uma área na qual as mulheres tem papel dominante.
Ocorre no livro de Richards um paralelo entre as teorias morais darwiniana e utilitária, e é introduzido o conceito de Spencer sobre a evolução ser uma força moral. É colocada então a Teoria de Spencer para a evolução, e o empirismo de Kant para explicar a evolução mental. Spencer deixa uma marca na ética evolucionária, antes de ser introduzida a demanda religiosa e metafísica de Romanes, Mivart, and Morgan, com uma discussão do papel da prece, e a seleção natural segundo a teologia natural.
Vem uma complexa discussão envolvendo evolução, metafísica, religião, e a polêmica entre Morgan e Romanes sobre o estado da Psicologia Comparada, o ramo da psicologia que estuda sua evoluçãoem outras espécies que não a humana. A organização Monística que Morgan propos para a ciência, assim como sua Teoria do Instinto são explanadas com a evolução mental e a Teoria da Seleção Orgânica. E finalmente Richards chega na equação pessoal na ciência, com a discussão da obra de William James, Psychological and Moral Uses of Darwinian Theory.
James Mark Baldwin, na virada do século 19 para o 20, abordou o tema da biopsicologia evolucionária, e a política de idéias científicas, e sua relevância na mudança da antiga para uma nova Ciência Psicológica, baseada na genética psicológica e na teoria da imitação. Também envolveu a análise evolucionária da consciência na raça e no indivíduo, e a evolução social do conhecimento e da moralidade. A seleção orgânica, a decoberta científica e o escândalo que levam a uma extinção profissional.
A transformação e o declínio da imagem darwiniana na história da teoria da mente do ser humano no século XX ocorreu em paralelo a uma diminuição da inserção da evolução nas ciências sociais e à dificuldade mesmo do biólogos da mente e comportamento em entendê-la e aceitá-la. Na Alemanha surgiu um neodarwinismo com a sociobiologia, e um cisma na teoria evolucionária atual. Os opositores argumentam que a psicologia evolucionária pode ser utilizada para justificar hierarquias sociais e políticas reacionárias, e que são baseadas em teorias e dados empíricos que se baseiam em ideologias de raça e gênero. A resposta é que não se pode cair na “falácia naturalista”, ou seja, acreditar que tudo que é natural é bom.
Este artigo funciona em conjunto com 2 vizinhos, sobre as teorias humanistas da mente e comportamento e sobre o paradigma neurocientífico recente do mecanismo cognitivo chamado Theory of Mind (ToM), que precisa ser traduzido com cuidado para Teoria da Mente.
Dr Paulo Bittencourt