O uso de dipirona e Novalgina e as complicações do metamizole

Dipirona e Novalgina, ou metamizole, foi retirado do mercado americano e de vários países europeus nos anos 1970 devido ao risco de aplasia de medula óssea – agranulocitose – que é fatal e só pode ser tratada com um transplante de medula óssea. O transplante tem uma mortalidade de 10% e custa mais de um milhão de reais. Porém Dipirona e Novalgina são utilizados para dores e febre de maneira completamente liberada no Brasil. Qualquer pessoa compra dipirona e Novalgina sem receita em qualquer farmácia; médicos prescrevem em UTIs adultas e pediátricas, mesmo em pessoas muito doentes tomando vários medicamentos, que teriam um risco ainda maior das complicações pelas interações entre os remédios.

Na Alemanha a dipirona e Novalgina foi restrita em 1986, quando diminuiu o uso, que depois aumentou novamente. Um estudo de todos os relatos espontâneos de aplasia de medula óssea – agranulocitose – mostrou que um aumento das receitas de 20 para 140 milhões ao ano entre 1990 e 2012 levou a um aumento de relatos de agranulocitose de 10 para mais de 50 ao ano. (Stammschulte  et al. Eur J Clin Pharmacol. 2015 Sep;71(9):1129-38). Os pacientes tinham 57 anos de idade na média, e ocorreu na maioria logo no começo do uso. Os autores recomendam maior restrição ao uso, tendo em vista a falta de fatores de risco definitivos. Um estudo brasileiro (de Souza et al J Basic Clin Physiol Pharmacol. 2018 Jul 26;29(4):385-390) mostrou que mesmo o uso de curto prazo de dipirona e Novalgina leva a queda no número de leucócitos, plaquetas e hemácias. O risco de aplasia de medula óssea parece ser um para cada um milhão de receitas ou de vezes que as pessoas tomam Pode ser resultado do uso cumulativo repetido e de uma reação tipo anafilática, como uma alergia mesmo em dose única ou poucas doses.

Também ocorrem outras reações, como porfiria, e uma reação muito grave de pele, chamada de necrólise epidermal. Todas as reações na verdade fazem parte de um espectro da chamada reação de hipersensibilidade que muitos remédios provocam, mas é mais grave no caso de dipirona e Novalgina. Minha impressão pessoal é que os responsáveis pela autorização para uso desta medicação só podem estar agindo por interesse, pois seu uso além de criar lucro para toda a cadeia de venda, também cria um mercado de transplantes de medula óssea. No caso do Brasil pode se imaginar que teremos uns 100 casos de agranulocitose por ano, pelo menos, que terão necessidade do transplante. Só aí o prejuízo é de 150 milhões de reais para serem divididos entre os 5 ou 10 locais que fazem este procedimento no país.

Dr Paulo Bittencourt