Não há dúvida que o ano de 2020 foi um teste para saber quem são médicas e médicos mais felizes. Neste artigo Charlie Williams revisa para o Medscape estatísticas sobre um ano chocante. Medscape e Medlinx são os serviços mais populares de informação médica da era digital. Usados por quase todos os médicos, em especial nos EUA. Embora trabalhadores essenciais estejam em uma posição semelhante aos da saúde em geral, médicos e médicas ficaram na fronteira entre o mundo e o vírus que matou centenas de milhares em tantos países, em especial nos EUA e no Brasil.
As semelhanças entre EUA e Brasil talvez expliquem melhor as coincidências estatísticas do que somente os presidentes de extrema direita. Nos dois países a população tem diversidade racial e sistemas de saúde muito semelhantes. São países muito diferentes dos europeus, Canadá, Austrália e Nova Zelandia, que tem sistemas de saúde realmente universais e eficientes. O SUS brasileiro e o Medicare americano, mesmo com a reforma do Obamacare abortada por Donald Trump, tornam a saúde uma atividade privada. Os profissionais recebem salários por procedimentos. Quanto mais gente atendem, mais ganham. Nos sistemas europeus, e mesmo em países como China e Japão, o salário e as horas são fixas. Ao fim do mes, o salário é fixo.
As coisas já não vinham bem para médicos e médicas antes da pandemia. O burn out já era epidêmico. Conforme o National Physician Burnout & Suicide Report 2020 da Medscape, entre 30% e 50% dos médicos já tinham sinais de estafa psicológica – burn out – em 2019. Em 2020, o MDLinx fez uma pesquisa de COVID-19 em médicos americanos e descobriu que metade estavam repensando suas carreiras.
https://www.mdlinx.com/article/these-doctor-specialties-are-the-happiest/7m8muP4vVSc1nSLq4WX706
Mas usar um avental e estetoscópio para ajudar pessoas a resolver seus problemas pode ser um desafio que dá muito retorno. Algumas especialidades exigem muito tempo dedicado a documentação, por vezes 2 h de tempo em prontuários digitais para cada hora de trabalho na presença do paciente. E assim varia o trabalho médico que pode resultar em prazer ou estafa ao fim do dia.
O bem estar mental a felicidade podem ser medidos tanto no tempo que médicos e médicas gastam trabalhando quanto no seu tempo livre. Aqui estão os resultados do Medscape Physician Lifestyle & Happiness Report 2020 , primeiro listando a porcentagem de médicos que responderam ao questionário: Reumatologia – 60%; Saúde Pública e Medicina Preventiva, Alergia & Imunologia – 59%; Ortopedia, Urologia, Oftalmologia – 58%; Pediatria – 57%; Dermatologia – 56%.
Estas são as especialidades menos felizes no seu tempo livre, longe do trabalho: Neurologia e Medicina Intensiva – 44%; Medicina Interna – 48%; Gastroenterologia, Diabetes & Endocrinologia; Medicina Pulmonar 49%; Medicina de Família, Anestesiologia e Patologia – 50%; Nefrologia, Cardiologia, Oncologia, Psiquiatria, Radiologia – 51%.
Felicidade no trabalho é outra história. De acordo com o Medscape’s 2017 happiness report—o mais recente disponível, os médicos menos felizes fora do trabalho ainda eram mais felizes que médicas e médicos mais felizes no trabalho. Aqui estão as especialidades mais felizes no trabalho, considerando os médicos que responderam estar felizes ou muito felizes no trabalho: Dermatologia – 43%; Ofthalmologia- 42%; Alergia & Imunologia – 41%; Ortopedia, Psiquiatria & Saúde Mental, Medicina Pulmonar – 37%; Pediatria, Patologia e Oncologia – 36% .
E os menos felizes no trabalho: Reumatologia, Nefrologia – 24%; Medicina de Emergência, Medicina Interna – 28; Medicina de Família – 29%; Medicina Intensiva – 30%; Cardiologia, Diabetes & Endocrinologia; Infectologia, Urologia -31%.
A idade é mais que só um número
As mudanças na sociedade, cultura, política e ambiente atingem diferentes gerações de maneiras diferentes, e podem impactar de maneira diversa quem são as médicas e os médicos mais felizes. O 2020 Medscape report mostrou que médicos da geração milenial ( nascidos em torno de 1990) foram os mais felizes por uma pequena margem, 81%, comparado com 77% da geração X (nascidos em torno de 1970) e 76% dos Baby Boomers ( nascidos em torno de 1955). Estes, os Baby Boomers, se disseram tão infelizes fora do trabalho quanto a geração X (18%), um pouco mais infelizes que os mileniais (15%). A idade também alterou a medida de quanto tempo médicas e médicos gastaram com seu bem-estar: 9% sempre dão a eles mesmos tempo suficiente para bem estar e wellness versus 6% da geração X e 5% dos mileniais. Em média global, os geração X foram os que menos gastaram tempo com bem estar e wellness.
A confiança é tudo
Sentir que você faz bem o seu serviço, além de aproveitar o tempo livre e tomar cuidado de si mesmo pode fazer tudo parecer fácil, e pode ter a ver com quem são médicas e médicos mais felizes. Por outro lado, se sempre tudo está difícil, você está sempre sobrecarregado, vivendo em um turbilhão, lutando com problemas maiores que sua capacidade, sua vida parecerá uma batalha perdida. No 2019 happiness report, o Medscape investigou auto-estima. Os médicos de mais elevada auto-estima são: Cirurgia Plástica 73%; Urologia – 68%; Oftalmologia, Diabetes & Endocrinology – 67%; Ortopedis – 66%; Nefrologia 65%. E os de menor auto-estima são Infectologia – 47%; Oncologia 48%; Medicina Interna 50%; Medicina de Famíia, Patologia 51%; Pediatria. Psichiatria – 53%.
Ficar longe das contas
Embora se diga que dinheiro não traz felicidade, a vida é mais fácil se você não precisa calcular cada gasto. Como a diferença entre as especialidades que mais e as que menos faturam é do tamanho de um salário inteiro, faz sentido prestar atenção em sua escolha de carreira. Segundo o 2020 report quem mais ganha são: Ortopedia – $511 mil dólares por ano; Cirurgia Plástica – $479mil; Otorrinolaringologia – $455 mil; Cardiologia – $438mil; Radiologia – $427 mil. E as que menos ganham são Pediatria, Saúde Pública e Medicina Preventiva – $232 mil; Medicina de Família – $234mil; Diabetes & Endocrinologia – $236 mil; Infectologia – $246mil; Medicina Interna – $251mil dólares por ano.
O resumo final
É difícil dizer quais são médicas e médicos mais felizes por especialidade, porque felicidade é subjetivo. Só você pode resolver o que lhe traz felicidade. Mas quando se consideram todos os fatores, algumas tendências surgem. Cirurgiões plásticos estão estufados de auto-estima e dinheiro. Endocrinologistas ganham menos e são menos felizes no trabalho. Reumatologistas se sentem melhor fora do trabalho. Então, veja com cuidado o que lhe importa, e escolha sua especialidade de acordo.
Dr Paulo Bittencourt
