Joana ‘Arc e a Inquisição francesa, espanhola, os ingleses e a igreja

Esta Inquisição que queimou viva Joana D’Arc, a santa nacional francesa era a chamada Inquisição Medieval, ligada diretamente à Igreja Católica através do bispo local. Neste sentido a Inquisição Espanhola era bem mais tranquila, metódica, civilizada e lerda. Mas queimar heréticos era uma coisa relativamente comum na Cristandade no século XV. Como o Santo Ofício era proibido, pela sua própria natureza religiosa, de matar pessoas, o condenando era entregue ao poder secular para a sentença ser executada. Assim, Joana D’Arc estava presa pelos ingleses, embora tivesse sido julgada pelos inquisidores do bispo francês. Foi assim que os ingleses criaram a situação na qual, chamada para um novo interrogatório e confirmar que negava suas vozes, Joana D’Arc foi obrigada a vestir roupas de homem para não sair nua da cela pela manhã, talvez mostrando em seu corpo as marcas de violência sofrida durante a noite. Foi quando ela entendeu que pelas regras, já estava condenada. Voltar atrás só significava que seria morta antes de a fogueira começar a arder, lhe economizando o sofrimento final. Juntos, o poder secular e os inquisidores davam 3 oportunidades ao condenado, fosse ele homem, mulher, velho, criança, doente mental. Se na terceira continuasse afirmando a heresia, era “relaxado”, solto para o poder secular, que ligava a fogueira e a pessoa ardia em chamas. Solto em pessoa significava ir para a fogueira. Em esfinge, uma copia em papelão era queimada, quando a pessoa já havia morrido ou fugido.

Ainda existem as possibilidades espirituais e religiosas, que aumentam muito a culpa dos ingleses, escoceses, britânicos e americanos. Infelizmente, até mesmo William James não a avalia em sua obra-prima “The varieties of religious experience”, de 1902, talvez porque ela ainda não tivesse sido beatificada ou santificada, ou porque biografias confiáveis não existissem, e ela ainda fosse mais louca do que gênio ou santa. Lembro que este livro maravilhoso foi escrito com as palestras do precursor da Psicologia, um americano de New York, em Edinburgh. Mais provável é que William James tenha tido um misto de medo e preconceito em analisar o caso de Joana, com o grave comprometimento dos ingleses no seu assassinato. Porém, é impressionante que não haja menção a Joana. Uma pena, já que William James estudou muito o assunto. A não ser uma falha minha em achar em sua obra uma interpretação de Joana, eu diria que ela o deixou de joelhos.

Dr Paulo Bittencourt

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leia mais em Fora da Casinha, uma análise histórica da loucura, 2ª edição, disponível pelo dimpna@dimpna.com.