O tratamento de esclerose múltipla em crianças e jovens é um desafio ainda maior que nos adultos jovens que são a maioria das pessoas que tem a doença. Em Ontario no Canadá, pesquisadores conseguiram capturar 81 casos de esclerose múltipla em crianças e jovens. Autores americanos reconhecem que existem poucos dados sobre eficácia e segurança de medicamentos para tratamento de esclerose múltipla em crianças, quando ainda são crianças, logo no início dos sintomas e sinais. A razão é que os medicamentos de primeira linha, interferons e glatiramer acetato, não funcionam bem. Pesquisadores revisaram 1019 casos com início na média aos 13 anos de idade ou de esclerose múltipla tratados em 12 clínicas especializadas americanas. Em 61% o tratamento foi iniciado ainda na infância, com dimetil-fumarato, natalizumab, rituximab, fingolimod, daclizumab e teriflunomide. Estas medicações tiveram eventos adversos calculados em número por 100 pessoas-ano. É uma maneira de se fazer uma porcentagem por ano de tratamento. A frequência de eventos adversos dos medicamentos acima assim calculados foi: 37, 16, 17, 7, 10 e 0, este último em só 3 casos que usaram teriflunomide.Esta escolha de tratamento revela que é comum o tratamento de esclerose múltipla em crianças e jovens ser difícil devido à intensidade da doença, que costuma ser muito inflamatória e rapidamente progressiva. Assim, medicamentos mais complexos logo são necessários.
Krysko et al on behalf of the US Network of Pediatric MS Centers. Neurology 2018; 91:e778-787
Marrie et al. Neurology 2018; 91:e1579-e1590
Mais recentemente já foram publicados artigos que demonstram que estas pessoas, as que começam com esclerose múltipla na infância e na juventude, tem uma evolução de longo prazo prejudicada pela doença, com consequências sociais e profissionais ligadas às dificuldades cognitivas causadas pela doença.
Kyla A. McKay Long-term Cognitive Outcomes in Patients With Pediatric-Onset vs Adult-Onset Multiple Sclerosiset al JAMA Neurol. 2019;76(9):1028-1034
Emilio Portaccio et al. MS Study Group of the Italian Neurological Society. Long-term Cognitive Outcomes and Socioprofessional Attainment in People With Multiple Sclerosis With Childhood Onset Neurology April 19, 2022; 98 (16)
Neste último estudo longitudinal 48 pacientes foram avaliados 2, 5 e 12 anos após o início da doença. Todos passaram por uma bateria de testes cognitivos e outros explorando depressão, fadiga e que grau atingiram dos pontos de vista de desenvolvimento pessoal, social e profissional. Cálculos de previsores de piora e melhora cognitiva foram incluídos. É um estudo prospectivo e controlado, muito forte do ponto de vista epidemiológico. No último seguimento, com 13 anos de estudo em média, 33 pacientes foram avaliados. A performance cognitiva média piorou no 2o ano e melhorou no 5o ano, ficando estável até o ano 12. QI elevado de início e menor número de recidivas nos primeiros 2 anos foram os melhores previsores de bom prognóstico. Seja o sucesso profissional e social, ou a melhor função cognitiva final. Do grupo de 33 pacientes um total de 18 (54%) foram definidos como tendo função cognitiva danificada em comparação com controles saudáveis. Ao fim do seguimento de 13 anos, comparado com o início da doença, o dobro de pacientes estava com deficiência cognitiva comparado com controles. O mesmo foi observado com o grau de desenvolvimento profissional, pessoal e profissional atingido, comparado com controles. Os autores concluem que além de um controle rápido da doença logo ao início, a reserva cognitiva foi determinante para os que se deram bem. Eles recomendam que estas crianças sejam mantidas com alto grau de enriquecimento intelectual logo no início da doença, ao invés do usual, que é deixá-los em certo repouso e afastados da vida normal de seus colegas, devido à gravidade da doença inicial.
Há 10 anos um paciente que agora tem 16 anos de idade não conseguiu um profissional que o atendesse, até ser encaminhado a nós, já com doença avançada e várias deficiências neurológicas, aos 10 anos de idade. O video abaixo conta está história. O uso do protocolo aqui no Brasil conhecido como do Ministério da Saúde agora já é bem estabelecido.
História natural e tratamento de esclerose múltipla
Dr Paulo Bittencourt
veja um artigo nosso mais antigo sobre o mesmo assunto: