Esclerose lateral amiotrófica tem causas genéticas e ambientais

Stem cells and ALS

A esclerose lateral amiotrófica é uma doença progressiva e degenerativa que envolve perda de neurônios corticais, bulbares e da medula espinhal. A doença é causada por fatores ambientais e genéticos. Mais de 20 genes já foram identificados nos portadores, usualmente em grupos com fenótipos específicos, como jovens, portadores de demência frontal, os que evoluem rapidamente. O leigo precisa entender que não é todo gene que passa a doença, como ocorre com a calvície. É muito mais complicado. Por exemplo genes tem a chamada penetrância, traduzindo do inglês. Significa que só parte das pessoas que tem um gene vão desenvolver aquela característica em certa idade. Genes de esclerose lateral amiotrófica tem penetrância de 20-80%.

Estudos epidemiológicos indicam que esclerose lateral amiotrófica é uma doença que se inicia em múltiplos degraus. Os genes C9orf72, SOD1, TARDBP, e FUS aparecem em até 10% dos casos em estudos em vários países. Além destes e outros genes que podem causar a doença, existem outros como UNC13A, ATXN2, e CAMTA1 que mudam o fenótipo, ou seja, como a doença aparece, tanto pela idade de início como pelos sinais neurológicos e evolução. Análise epidemiológica sofisticada comparando pessoas com esclerose lateral amiotrófica na Irlanda e na Itália indica que quando uma mutação genética é observada, a doença aparece em 2, 3 ou 4 degraus. Nos outros pacientes, ocorrem 6 degraus que culminam na doença aparecer.

Dos fatores ambientais já pesquisados em grande detalhe, está claro que sexo não importa; cigarro e ter sido ou ser militar pioram a chance de ter a doença. Porém, mesmo estes fatores de risco devem ser encarados com calma, pois muitos outros já apareceram e foram descartados, como pesticidas, chumbo, trauma, choque elétrico, efeito eletromagnético. Porém, em 80% dos casos não se localiza uma causa genética, nem mesmo uma associação possível com os genes que até hoje são conhecidos.

Um foco recente de atenção tem sido o receptor Sigma-1, que vem a ser uma proteína intracelular associada às mitocôndrias. Está envolvida na morte dos neurônios motores, que é encarada como o alvo final de vários mecanismos de degeneração. O receptor Sigma-1 é muito envolvido com mecanismos de excito-toxicidade, sobrecarga de cálcio e disfunção mitocondrial. A consequente diminuição de produção de ATP leva à apoptose, a forma de morte celular que não depende de inflamação.

Dr Paulo Bittencourt

E E Benaroch. Neurology 2018; 91:743-747

Chio et al. Neurology 2018; 0:e1-e8