Este artigo vem do longo tempo do meu envolvimento com dieta mediterrânea, desde antes desta forma de sugestão nutricional ser assim chamada, 20 anos atrás. Na época, me tornei hipertenso, assim como muitos primos e mesmo outras pessoas que iam passando pela clínica, e entendi o que havia ocorrido com meu pai, que faleceu aos 47 anos após 13 AVCs em 13 anos de doença. Na coluna Well, de Gina Kolata no New York Times, já saíram muitos artigos sobre este mesmo assunto. Primeiro percebi que a comida oriental, em especial a japonesa, era a mais apropriada para o problema de sal e de gorduras animais. Foi quando precisei abandonar uma carreira de conferencista internacional para poder aderir a um sistema de dieta e exercícios.
As dietas orientais funcionam pelas mesmas razões que a dieta mediterrânea. Depois saíram estatísticas da FAO e da OMS comprovando que os países como o Japão e os em torno do Mar Mediterrâneo, tanto os mais ricos ao norte como os mais pobres ao sul, que na verdade estão no norte da África, tem estatísticas de saúde muito melhores que os países muito mais ricos da Europa central e do norte, da América do Norte e da Oceania. Quem não usa esta dieta há 20 anos estava mal informado, no mínimo. É melhor entender que existe um ramo do conhecimento chamado Cultura da Saúde, que no Brasil é muito mal desenvolvido.
Aos poucos estes dados que levaram ao conceito da dieta mediterrânea, que na verdade são conhecidos desde o fim do século passado, foram passando por cima da barreira das companhias farmacêuticas que tanto se beneficiam da cultura da doença. Foi já nesta década que todos finalmente se convenceram que 30% de infartos, AVCs e mortes cardíacas podem ser evitadas em pessoas de alto risco se eles mudarem para uma dieta mediterrânea rica em óleo de oliva, nozes, feijão, peixe, frutas e vegetais, e vinho nas refeições. O efeito desta dieta nos pacientes foi medido em um estudo clínico publicado no New England Journal of Medicine. Mas o estudo terminou antes da hora, pois foi considerado anti-ético, era óbvio que quem fazia a dieta mediterrânea se dava melhor. E a medida do estudo não foi bobagem como níveis sanguíneos de colesterol e glicose. Os objetivos do estudo eram infartos, AVCs e morte, que repetimos, diminuíram em 30%. Com este efeito demonstrado tão claramente em estudo com métodos americanos, tratados com todos os sistemas americanos, ficou difícil dos médicos americanos não entenderem porque esta dieta funciona.
A dieta mediterrânea chega próximo ao vegetarianismo, porque em torno do Mar Mediterrâneo nunca houveram pastos e portanto nunca houve gado. Já convenceu pessoas praticamente condenadas como Bill Clinton, e todos os pesquisadores envolvidos. É mais um dos motivos que eu brinco com os pacientes, inclusive com as crianças da clínica que ali nós somos muito comerciantes. Nós queremos que as pessoas ficam vivas, porque estamos em um setor de serviços, que trabalha com os vivos, dependemos de fatores que prolonguem a vida.
Dr Paulo Bittencourt