Aos poucos vem surgindo evidência de que células tronco possam ser úteis no tratamento de paralisia cerebral. Na verdade a história começou já há bastante tempo, com casos nos quais a origem da síndrome neurológica foi vascular, quando parecia claro que o deficit neurológico era de origem isquêmica. Mais e mais pacientes com paralisia cerebral começaram a ser tratados com várias formas de terapia celular através dos anos.
Existem, no entanto, vários poréns. O primeiro é que a síndrome que os neurologistas atendem tem várias causas, e em muitos pacientes não existe uma causa esclarecida. Para entender melhor, o diagnóstico precisa ser bem estabelecido ( http://www.dimpna.com/2015/11/11/retardo-mental-sindrome-de-down-e-paralisia-cerebral/ ). Mesmo assim pais pressionam e muitos pacientes entre 2 anos de idade, quando se faz o diagnóstico, e até 10 anos de idade, terminaram sendo incluídos em estudos que foram revisados de uma maneira estatística chamada de meta-análise, muito bem aceita cientificamente.
O segundo porém, além da indefinição diagnóstica, é a indefinição terapêutica. Os pacientes foram submetidos a várias combinações de atendimento, envolvendo o tratamento de células tronco, reabilitação neurológica e cognitiva em geral superior à usual, e eritropoietina.
O terceiro porém é que o próprio tratamento de células tronco variou entre os estudos submetidos à meta-análise. Em uma revisão que estamos mencionando aqui, mais de 300 casos foram avaliados. Haviam recebido células obtidas em bulbo olfatório, células neurais, células progenitoras neurais, e principalmente células de cordão umbilical alogênico. Estas últimas são as mais comuns e. na verdade as únicas que podem ser obtidas para injeção alogênica rotineira. A técnica de transplante utilizada incluiu desde acesso ao sistema nervoso central em centro cirúrgico com abordagem direta e colocação das células em locais específicos, até infusão das células por via arterial ou venosa.
O quarto detalhe é que os estudos não duraram mais que 6 meses. O efeito motor foi mais óbvio com as células de cordão umbilical. Não ocorreram efeitos adversos importantes. Embora esta forma de tratamento venha sendo considerada plausível e até uma cura em certos casos, e apesar do otimismo dos pais, ainda não existe prova irrefutável de que estes tratamentos funcionam.
Dr Paulo Bittencourt
figura: www.gregadunn.com
Stem Cell Interventions for People With Cerebral Palsy: Systematic Review With Meta-Analysis. Iona Novak, Karen Walker, Rod W. Hunt, Euan M. Wallace, Michael Fahey and Nadia Badawi Stem Cells Trans Med May 2016 First Published Online May 31, 2016 doi: 10.5966/sctm.2015-0372