O coronavirus COVID 19 e minhas cuecas samba canção

coronavirus covid 19

A pandemia do coronavirus Covid 19 está causando mudanças drásticas em nossas estratégias de sobrevivência. Aqueles hábitos alimentares, do ciclo de sono e vigília, sexuais, de relações com animais e inter-pessoais, que nos permitem sobreviver na catástrofe do dia a dia. Como por exemplo odiar o síndico do prédio, chamá-lo de sindicalista terraplanista ridículo.

Perdi a vergonha de falar sobre minhas cuecas samba canção quando assisti um destes programas de TV a cabo que você passa sem querer, e lá estava o Chiquinho Scarpa tentando vender sua mansão em São Paulo. Ele contou uma série de coisas da clássica casa. Antes que eu trocasse de canal ele chegou ao enorme closet, e mostrou a gaveta especial para as cuecas samba canção, essenciais na sobrevivência de muitos homens desta geração.

Pois então, a história é real. A gente precisa destas cuecas, de algodão. Uma ou outra pode ser de seda, mas o dia a dia é com as de algodão 100%. Uma destas pode custar o preço de uma camisa, e certamente mais que uma camiseta. Você precisa umas 10, e as coisas de algodão puro dão manutenção, alguém precisa dar um jeito em barras, botões, e pequenos buracos. Senão não há dinheiro que vença.

Note que o Chiquinho Scarpa é um mafioso caretão paulista. Eu sou um curitibano moderno estiloso, nadador de competição. Portanto, um monte de gente vê minhas cuecas todo dia. Ou pelo menos via, a vida toda antes da pandemia. Então elas estavam sempre impecáveis. Foi nesta situação que a pandemia me pegou. O local mais nobre do armário mais próximo da minha cama ainda tem as cuecas novas, para usar quando eu fosse nadar, que era para ser quase todo dia. Logo ao lado estão as velhas, queridas, americanas. Um jogo maior, tecido mais grosso, feito no Sri Lanka, de inverno. Outro mais fino, de verão, feito na China. Eram ainda usadas em casa, pois são deliciosas, não consegui jogar fora.

Logo no começo da pandemia do coronavirus Covid 19 fecharam meu clube, pela primeira vez desde que comecei a nadar lá. Desde o tempo dos vikings, muito antes do Pedro Álvares Cabral, eu nado na mesma piscina e uso o mesmo vestiário. Fechar o clube foi um dos maiores choques que a pandemia me pregou. Pois minha vingança contra o coronavirus Covid 19 foi usar as cuecas velhas o tempo todo. As novas estão lá paradas, desprestigiadas. Uso só as velhas, e sinto uma comunhão espiritual com as moças usando roupas caseiras na rua, para passear os cãezinhos, fazer exercício e no mercado. Como a Ivete Sangalo na sua live na cozinha de pijama. Eu uso minhas cuecas desbotadas, gastas, puídas, deliciosas. Nos dias mais quentes, elas são promovidas a pijama, de conjunto com outro item ressuscitado pela pandemia, camisetas que seriam descartadas.

Veremos como vamos ficar agora: o clube vai reabrir, mas não dá para usar o vestiário. Acho que vou comprar um traje de neoprene, daqueles de nadar no mar gelado, para nadar no dia a dia. Com algum tipo de capacete. Oh, deus, oh dia. Cada coisa que acontece. Uma conhecida minha foi nadar estes dias, e seguiu a orientação de ir de máscara até a borda da piscina. Acabou pulando na água de máscara! Para não sair depois do clube e vir trabalhar com a máscara molhada, emprestou de uma amiga que carrega uma máscara sobressalente. Que situação!

Dr Paulo Bittencourt