Saudade – poema de Paulo Bittencourt para uma afilhada

Saudade

 

Após um reinado de luz e calor,

O sol com seu brilho no além descambou

E o azul desmaiado e sereno da noite

Aos poucos e poucos no céu vislumbrou.

 

Então eu, deitado na areia da praia,

Entregue a maguado e devido cismar,

Sentia a passagem dormente das horas

E ouvia o constante sussuro do mar.

 

A música triste e sonora dos ventos,

Em débeis compassos tocantes de dor,

Passava de leve por sobre meu corpo

Que tanto penava a distância do amor.

 

E quando meus olhos, de lágrimas cheios,

Volveram-se aos céus implorando piedade,

Fecharam-se ao ver que as tão lindas estrelas

Se riam jocosas de minha saudade.

 

Paulo Bittencourt

 

A querida Miriam, com

um abraço de seu padrinho

Paulo

Saudade é um poema de Paulo Orlando Mäder de Bittencourt. O original não está datado, talvez tenha sido completado no Rio de Janeiro, bem no início dos anos 1960. Paulo Orlando escrevia poemas em cadernos, mas talvez nenhum tenha sobrevivido. Em 1962, aos 35 anos de idade, seria atingido quase fatalmente por um acidente vascular cerebral que o deixou muitas semanas em coma no Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo. Em seguida viriam meses em cadeira de rodas, antes de voltar a praticar a Obstetrícia e Ginecologia utilizando uma bengala canadense e uma órtese na perna esquerda. Viria a falecer após sucessivos acidentes vasculares cerebrais em 1975, logo antes de completar os 48 anos de idade. Teve uma carreira de sucesso e filhos que não viu crescer. Com esta dificuldade não foram só os poemas que se perderam. Quase todas outras atividades, esportivas ou de lazer, ficaram comprometidas. Hoje se sabe que esta forma rápida de doença vascular cerebral em jovens pode ser totalmente relacionada com hábitos de vida então predominantes, como dieta com sal e cigarros, e a falta de medicação anti-hipertensiva apropriada. assim, muitos parentes seus tem evitado as consequências da mesma doença.

Paulo Rogério Mudrovitsch de Bittencourt