Mielite transversa é um diagnóstico neurológico dramático, definitivo, e que já há uns 10 anos precisa e pode ser esclarecido em muitos pacientes. É dramático pois muitas pessoas ficam paraplégicas ou mesmo tetraplégicas com pouca chance de recuperação funcional. Os avanços de neuroimagem, de diagnóstico laboratorial e de conhecimento clínico mudaram a perspectiva diagnóstica, que antes era de todos pertencerem a um grupo geral, chamado de mielite transversa idiopática, ou seja, sem causa específica. Era, na prática, uma condenação. Em um estudo da Mayo Clinic
Zalewski, Flanagan and Keegan. Evaluation of idiopathic transverse myelitis revealing specific myelopathy diagnosis. Neurology 2018 90:e96-102
226 pacientes de mais de 18 anos de idade foram investigados entre 2010 e 2015 e detalhadamente reavaliados de acordo com critérios diagnósticos recentes. Se havia dúvida seu diagnóstico era revisado por um dos autores. Em 41 casos (18%) não se achou uma causa, e permaneceram como mielite transversa idiopática. Nos outros 165 – 70% – um diagnóstico específico etiológico foi estabelecido. Foram as seguintes causas determinadas: esclerose múltipla ou síndrome clínica isolada (75 casos); mielopatia vascular (41); neurosarcoidose (12); neuromielite óptica (12); mielopatia por glicoproteína de mielina e oligodendrócito (5); neoplásico (4); compressivo (3); nutricional (3); infeccioso (2); outros (2).
O tempo entre início dos sintomas de mielite transversa e o diagnóstico variou entre 0 e 228 meses, com uma mediana de 9 meses. É um tempo longo demais, em vista que os pacientes tem uma deficiência neurológica muito grave, e podem ter sua história modificada pelo diagnóstico. É público e notório que a chance de deficiências neurológicas terem alguma melhora diminui rapidamente com o tempo de evolução. 55 pacientes – 25% do grupo investigado – com mielite transversa na apresentação tiveram mudanças em seus tratamentos devido à doença em si. A conclusão dos autores é que devido ao alto número de diagnósticos alternativos que tem condutas específicas, o rótulo de mielite transversa por si só deve ser evitado. Fica sendo um diagnóstico prematuro, que priva o paciente de tratamento que pode melhorar o terrível prognóstico desta doença.
http://www.dimpna.com/2018/04/29/tratamento-de-esclerose-multipla/
Dr Paulo Bittencourt