Atualização sobre metilfenidato e outras smart drugs em adultos

desejo feminino

Smart drugs são o que jovens e adultos procuram para melhorar sua performance em testes, concursos, estudo, jogos, e inúmeras outras situações. Smart drugs quer dizer drogas ou medicamentos espertos, que pessoas espertas utilizam para ficar mais espertos. Quase todas as smart drugs são relacionadas com o produto comercial Ritalina, ou outros derivados da anfetamina. No link abaixo está um artigo do nosso site inglês que explora uma revisão definitiva sobre metilfenidato do sistema Cochrane, o de maior credibilidade internacional. Os autores concluem que não existem estudos que justifiquem o uso de metilfenidato em crianças, porque os estudos feitos até agora foram muito curtos, de menos de 3 meses de duração; efeitos colaterais como insônia e inapetência invalidaram a metodologia duplo-cega utilizada. Além disso, só foram positivos na avaliação dos pais e professores. Conforme as regras dos direitos humanos adotadas pelo estatuto da criança, os estudos teriam que ter o consentimento das próprias crianças. Portanto, a ética destes estudos é discutível. Novos estudos teriam que ser realizados em adultos.

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Uma revisão interessante de estudos de smart drugs em adultos é

Current Neuropharmacology, 2015, 13, 5-11 5
Smart Drugs and Synthetic Androgens for Cognitive and Physical Enhancement: Revolving Doors of Cosmetic Neurology. Paola Frati, Chrystalla Kyriakou, Alessandro Del Rio, Enrico Marinelli, Gianluca Montanari Vergallo, Simona Zaami1 and Francesco P. Busardò. Department of Anatomical, Histological, Forensic and Orthopaedic Sciences, Sapienza University of Rome, Viale Regina Elena 336, 00161, Rome, Italy; Neuromed, Istituto Mediterraneo Neurologico, Via Atinense 18, Pozzilli, 86077 Isernia, Italy.

Apesar  da conexão com a famosa universidade romana, percebo que é com um departamento que não tem absolutamente nada a ver com o sistema nervoso. Porém o artigo reflete o que eu vejo no dia a dia em Curitiba, na clínica, na vida privada e esportiva. As pessoas definem “cognitive enhancement” como o uso de drogas lícitas para melhorar memória, atenção, criatividade, atenção e inteligência na ausência de indicação médica. Os autores argumentam que os humanos fazem isto desde que usavam halucinógenos para se comunicar com os deuses; depois  cafeína em bebidas energéticas e refrigerantes. Agora existem os nootrópicos, como o metilfenidato, que tem um papel semelhante aos esteróides anabólicos androgênicos utilizados nos esportes. Talvez os autores deixem nas entrelinhas que os anabolizantes são utilizados amplamente na idade mais avançada em vários países onde as leis médicas permitem, como Canadá e Brasil, quando se torna perigoso usar o metilfenidato, pelos riscos neurológicos e cardíacos.

Ao revisar a literatura sobre smart drugs, os autores não entendem porque as pessoas utilizam estes estimuladores cognitivos, já que a evidência científica de seu funcionamento é quase nenhuma, mesmo 50 anos depois de sua introdução com apoio de enormes companhias farmacêuticas. Só pode ser por razões espirituais, quase mediúnicas, de propaganda ou mesmo de necessidade sociológica. talvez, eu diria, pelo efeito de provocar euforia logo no início do uso.

Os autores complementam com as informações éticas e legais que o uso das substâncias mencionadas é considerado ilegal e injusto em todos os domínios internacionais. A injustiça é mais evidente no esporte com os anabolizantes esteróides e dos estimulantes do hormônio do crescimento, mas é a mesma com o metilfenidato no ambiente acadêmico. Assim, todas estas substâncias foram banidas pela World Anti-Doping Agency (WADA), Association of Tennis Professionals, Major League Baseball, Fédération Internationale de Football Association, pelas Olimpíadas, National Basketball Association, National Hockey League, National Football League e muitas outras organizações.

Os autores terminam lembrando que assim como os anabolizantes são associados com distúrbios mentais e suicídio, o uso crônico de metilfenidato também pode ser muito problemático. Porém, a neurologia cosmética (nenhum deles é um neurologista!) preenche uma lacuna criada por um desejo sociológico com uma solução farmacológica para um problema social. O artigo é disponível na PubMed, sem custo.

Dr Paulo Bittencourt