Cada vez mais evidência clínica em portadores de esclerose lateral amiotrófica – ELA, e científica, em várias formas de experimentos, se acumula sobre o papel da inflamação na degeneração dos neurônios motores superiores e inferiores. Os portadores de esclerose lateral amiotrófica, ELA, lentamente perdem sua capacidade motora e caminham para a incapacidade total. E continua somente o riluzole o único tratamento reconhecido pelas autoridades internacionais, com um efeito muito discreto sobre a evolução da doença.
Um editorial assinado por Massimo Filippi e Federica Agosta, duas das mais tradicionais autoridades em esclerose múltipla do planeta, se contrapõe a um artigo original de Alshikho e colegas, do Massachussets General Hospital, Harvard Medical School, publicados nas páginas 2508 e 2554 do número 87 da revista Neurology 87 de 2016. Filippi e Agosta exprimem uma posição conservadora, que me acostumei a observar como observo Donald Trump. Uma falta de verificação da realidade, por conflito de interesses como o próprio, que agora mirou em países que nunca tiveram nenhum terrorista no seu decreto de imigração.
Mesmo assim, em conjunto, o editorial e o artigo expressam o conceito atual de que inflamação na microglia, a substância branca que envolve os neurônios no cérebro e na medula, já tem sua assinatura genética bem definida, e está bem definida bioquimicamente no liquor com citocinas pró-inflamatórias. Agora, em estudos longitudinais em pacientes e controles saudáveis, a inflamação é altamente bem relacionada com a degeneração neuronal observada na ELA, pois existe até um traçador que permite acompanhar a evolução da inflamação e da degeneração com PET scan experimental. Mais ainda, agora os autores de Harvard demonstram o mesmo na ressonância magnética, o que significa que logo poderemos verificar esta progressão no dia a dia da clínica.
Não existe mais nenhuma dúvida. Inflamação é a causa da degeneração na esclerose lateral amiotrófica, ELA. Muitos detalhes ainda precisam ser esclarecidos, mas este mecanismo está muito bem estabelecido. Portanto, não é mais surpresa que tratamento anti-inflamatório de alta potência tenha algum efeito, como já afirmamos há mais de 10 anos.
Dr Paulo Bittencourt