Para qualquer um a impressão é que cada vez mais homossexuais e bissexuais se apresentam na adolescência e juventude. A língua inglesa novamente nos dá uma melhor qualificação do fato, são os anos teen, os adolescentes tardios, até os 19 anos de idade. Hoje em dia vemos no mercado, na rua, nos shoppings, nas escolas e universidades, casais do mesmo sexo cada vez mais livres. Seja pessoalmente ou como médico neurologista, só posso afirmar que nos últimos 50-60 anos aumentou a liberdade destas pessoas, mas não acredito que sejam mais comuns hoje em dia. Talvez o número não tenha aumentado, mas o fenómeno de casais se apresentarem juntos, até demonstrando carinho em público, certamente é recente.
Muitos pais ficam chocados quando precisam se deparar com a situação de um filho ou uma filha que pretende ou começa a pertencer ao grupo de gays, homossexuais e bissexuais na adolescência e juventude. O choque vem de vários lados diferentes. Creio que o mais difícil é contemplar que nosso filho ou filha, muitas vezes o único que temos, pretende pertencer a este grupo de pessoas, com as consequências pessoais, de saúde física e mental, sociais e familiares, inclusive diminuindo ou modificando nossos sonhos de netos e netas. Por mais que nós não tenhamos preconceito, ou não percebamos que temos, temos a percepção clara de que gays, homossexuais e bissexuais são colocados como em um gueto, como outras minorias, sejam raciais, religiosas, de peso, idade ou status financeiro e social. Com a recente guinada à direita de países como os EUA e o Brasil, com a maior influência religiosa, boa parte do mundo ocidental passou a tratar pior estas pessoas, embora ainda não chegue aos extremos islâmicos.
Ainda estes dias perguntei a meu filho de 17 anos o que ele achava de uma nossa conhecida que havia se aconselhado comigo sobre esta situação, no caso de uma filha. Curiosamente, talvez não surpreendentemente, ele teve a mesma opinião que eu já havia expressado a esta família. Não é um problema tão sério, por dois motivos. Primeiro, existem problemas mais graves, como engravidar de alguém muito problemático, se envolver com drogas ou álcool, se tornar HIV positiva, transexual, extremista político ou religioso, ou membro de alguma seita como existiam os Hare-krishna e existem muitas outras por aí. Segundo, por que é frequente que passe com o tempo, principalmente em mulheres.
Meu filho de 17 anos disse que nesta idade, em especial no ambiente universitário, as moças podem estar fazendo questão de expressar sua liberdade, talvez até tentando agredir a ordem vigente. Não é só uma característica da idade, mas também do meio universitário. Não sei se por minha influência, pois não penso que nós tivéssemos jamais conversado assim, ele ecoou minha experiência, inclusive na clínica e na vida pessoal. Dos meus colegas de idade que tiveram experiências homossexuais e bissexuais nos anos teen, alguns homens depois caretearam. Na minha geração, inclusive na minha família, não foi assim entre as mulheres: quem começou, permaneceu. Mas nos últimos 20 ou 30 anos atendi vários casos de moças que nos teens tardios usaram cabelos coloridos, piercings e tatuagens, tiveram experiências homossexuais e bissexuais, mas lá pelos 25 anos tinham voltado à sexualidade ortodoxa. Em geral quando amadureceram e passaram a cobrir seus próprios gastos. Em alguns casos também passam a esconder tatuagens e tiram piercings.
Minha recomendação como médico neurologista e como homem que vem dos anos 60 e 70, quando esta liberdade começou, é que os pais e pessoas em torno não piorem a situação. Como ocorre em muitas outras situações, pais e mães precisam exercitar com precisão o papel de quem deixa a criança ou o jovem livre para aprender com sua escolha sexual, como deve aprender com tantas outras escolhas. Verificar pessoalmente as consequências de suas atitudes. A criança e o jovem precisam ser os protagonistas de seu desenvolvimento. Os pais e mães não podem ficar no palco do teatro da vida, atuando com os filhos e filhas. Mas também não devem ficar na audiência, aplaudindo ou vaiando. Também não acho que devam apoiar, nem ir contra. Embora difícil, esta postura é reconhecida como a melhor, pois não piora eventuais manipulações por parte de seja lá quem for. O papel dos pais é escolher qual teatro, qual ambiente, os filhos e filhas tem para se desenvolver. Mais até do que em uma empresa, o papel dos pais é definir a postura estratégica de longo prazo familiar, seja política, religiosa, financeira, ou comportamental.
Dr Paulo Bittencourt