A maioria absoluta das pessoas com dor de cabeça que aparecem em um consultório médico configuram consultas de pequena gravidade. Por mais que a pessoa tenha um alto grau de sofrimento, quase 90% costumam ser dor de cabeça causada por contratura na musculatura paravertebral, a musculatura que faz mexer e sustenta a coluna vertebral. Nestes casos nós costumamos investigar com um mapeamento de EEG, como método de screening.
No caso das pessoas com enxaqueca mesmo, quando preenchem os critérios para esta forma mais específica de dor de cabeça, a gravidade médica é um pouco maior, pois existe um risco vascular. São pessoas que tem uma chance maior de vir a ter uma trombose, infarto, um AVC, alguma doença vascular. Nestes a investigação, além do EEG, merece uma rotina de sangue. Dependendo do caso, uma investigação mais profunda.
Porém, um pequeno número tem as chamadas cefaleias secundárias, que são causadas por uma doença específica. Um artigo de Thien Phu Do e colegas do Rigshospitalet-Glostrup de Copenhagen, Dinamarca, publicado na Neurology 2019, 92:134-144 revisa este assunto espinhoso para os médicos que atendem, e conclui que os marcadores da dor de cabeça ter origem em uma doença grave são:
- sintomas sistêmicos como mau estado geral ou febre, a pessoa que parece doente;
- história de câncer ou neoplasia, recente ou mais remota;
- déficit neurológico, uma anormalidade no exame neurológico, edema da papila óptica no fundo de olho; ou sintomas neurológicos claros, inclusive sonolência;
- início súbito ou abrupto;
- idade acima de 65 anos;
- mudança de padrão ou início recente;
- dor posicional ou iniciada ou piorada por espirro, tosse, exercício;
- cefaleias atípicas ou progressivas;
- gravidez ou puerpério;
- dor ocular com sinais autonômicos; pó-traumática;
- doença imunológica como HIV;
- uso excessivo de analgésicos.
Esta lista é chamada de SNNOOP 10 em inglês, e serve de orientação aos médicos. São os pacientes que precisam ser examinados com mais cuidado e investigados detidamente.
Dr Paulo Bittencourt