Controle, remissão e cura de esclerose múltipla

Ocrelizumab, teriflunomide and dymethylfumarate

A cura de esclerose múltipla e doenças imunológicas é um eterno e intenso chamativo de atenção para portadores de déficits neurológicos causados por estas doenças. Muitas pessoas confundem o controle da doença em si com o desaparecimento de sequelas. O controle da doença pode levar à remissão, ou seja, a uma ausência de crises. Mas desaparecimento de sequelas é muito diferente de ausência de deterioração, e não é mencionado em nenhum estudo, exceto nos de protocolos de ciclofosfamida associados com transplante de células tronco, onde melhora lenta e progressiva de déficit neurológico já foi relatada.

Gasperini et al Neurology 2019, 92: 180-192

Especialistas em ressonância magnética avaliaram resultados de estudos com muitos dos tratamentos disponíveis para esclerose múltipla. Ao invés de considerarem controle, remissão ou cura de esclerose múltipla, definiram o que é chamado de NEDA – no evidence of disease activity – sem evidência de atividade da doença. Este é o estado onde não existem crises clínicas, progresso do deficit neurológico, lesões ativas na ressonância ou atrofia (NEDA-4). Os estudos indicam que em torno de 10% dos pacientes recebendo interferon atingem este estado durante um tempo mais prolongado, de alguns anos. O número sobe para 20-40% dos pacientes tratados com teriflunomide, fingolimod e os anticorpos monoclonais, e para 60-80% dos pacientes tratados com ciclofosfamida em protocolos de transplante de células tronco. Note, por favor, que nenhum destes estados é cura de esclerose múltipla, e sim remissão.

Ressonância magnética promove um controle mais fino que o das crises clínicas, pois detecta 5 vezes mais lesões. Está relativamente bem estabelecido que 2 ou mais lesões detectadas anualmente em T2, T1 ou absorvendo contraste, levam a deterioração clínica. Também lesões de tronco cerebral e de medula espinhal. Por esta razão foi desenvolvido o conceito de minimal evidence of disease activity – MEDA – incluindo crises, progressão de deficit e atividade na ressonância magnética. Quando uma pessoa tem piora ou alerta em 2 destes 3 domínios em um ano, deve pensar em trocar de intensidade de tratamento, por que esta observação é associada com progresso de doença e do deficit neurológico em poucos anos. Menos que isso, ou seja, MEDA, parece não ser associado com progresso da doença.

Dr Paulo Bittencourt