Transplante de células tronco em esclerose múltipla tem efeito dramático

Ocrelizumab, teriflunomide and dymethylfumarate

O argumento contra células tronco em esclerose múltipla sempre foi a falta de estudos controlados, que são impossíveis. Como se fazer um transplante de mentirinha? Talvez este seja o primeiro tão esperado estudo randomizado comparando os tratamentos usuais de esclerose múltipla com o transplante de medula autólogo, chamado também de transplante de células tronco não mielo-ablativo. Neste transplante a quantidade de quimioterapia é menor que o usual, e a medula é só resetada, não completamente destruída. É semelhante, porém um pouco mais agressivo, que o tratamento chamado RENOVA da DIMPNA. Entre dezembro de 2005 e julho de 2016 um total de 110 pacientes com esclerose múltipla na fase de remissões e recidivas em atividade, com entre 2-6 pontos na escala de incapacidade EDSS, foram randomizados em centros nos EUA, Europa e América do Sul (Ribeirão Preto). A última avaliação e fechamento dos dados foi em fevereiro de 2018.

Os pacientes foram distribuídos em dois grupos iguais pela técnica de randomização, que é aleatória. Porém, é impossível um estudo duplo cego, pois os tratamentos são completamente diferentes, não haveria como nem seria ético executar um transplante de faz de conta. Metade – 55 – dos pacientes recebeu como tratamento de células tronco em esclerose múltipla um transplante autólogo com o uso de ciclofosfamida (200 mg/kg) e globulina antitimocítica (6 mg/kg). A outra metade recebeu tratamento que modifica a doença como interferon ou equivalente, de uma forma de mais alta eficácia que no ano anterior.

A medida escolhida foi progresso da doença, definido como uma perda de mais de 1 ponto na escala EDSS após 1 ano do tratamento, medida em 2 consultas com 6 meses de intervalo. A diferença em tempo para a progressão foi também avaliada.

Dos 110 pacientes 103 permaneceram no estudo; 66% eram mulheres com idade média de 38 anos; 98 foram avaliados com 1 anos e 23 foram avaliados anualmente por 5 anos, média de 2 anos. Progressão da doença ocorreu em 3 pacientes do grupo do transplante e em 34 do grupo de interferon-glatiramer. Tempo para progressão não pode ser calculado nos transplantados pois eram só 3. Foi de 24 meses nos de tratamentos usuais. No primeiro ano a escala EDSS melhorou de 3.38 para 2.36 nos transplantados e piorou de 3.31 para 3.98 nos utilizando os tratamentos usuais. Não ocorreram mortes e ninguém teve toxicidade grau 4 no grupo transplantado. Esta seria infarto do miocárdio, sepsis, ou outro evento grave com risco de morte. Ainda são necessários estudos para definir o que ocorre a longo prazo.

Porém o efeito desta forma de tratamento de células tronco em esclerose múltipla foi estabelecido sem qualquer dúvida.

Burt RK et al. JAMA. 2019 Jan 15;321(2):165-174

Adaptado para dimpna.com por Dr. Paulo Bittencourt