Embora o eminente médico alemão Rudolf Virchow (1821-1902) tenha sido quem propôs os mecanismos fisiológicos e patológicos que resultam na embolia pulmonar, foi só muito tempo após a sua morte, na realidade só na década de 1950, que se estabeleceu na Medicina o conceito da tríade que leva seu nome, muito útil para entender e gravar como se produz esta frequente e mortal síndrome clínica, que, justamente como pode ter acontecido com Rafael Greca, passa sem ser diagnosticada facilmente. Coágulos, ou êmbolos, que podem ser pequenos, por vezes somente de plaquetas, se desprendem de varizes ou de outros vasos nas pernas ou no abdomen, por exemplo na virilha de quem é muito obeso, e viajam pelas veias que tem um fluxo muito lento, passam pelo fígado, pela parte direita do coração, e empacam no pulmão. Causam um infarto pulmonar. Conforme o tamanho do êmbolo, e as dimensões do infarto pulmonar, o quadro clínico resultante pode ser passageiro. Causam pequenas crises de falta de ar, até que um maior pode causar um grande problema. Um grande êmbolo pode causar morte súbita.
Todo profissional da saúde, não só médico, sabe disso. Embolia pulmonar. Todos crescemos no sistema de saúde aprendendo como prever e evitar esta complicação, e todos temos casos para contar de pacientes que já perdemos por não termos feito o diagnóstico a tempo. É tão frustante e tão comum, que nem se conta entre os erros médicos, dentro de certos limites, claro.
A tríade de Virchow da embolia pulmonar é composta de problemas de coagulação, no revestimento interno do vaso e no fluxo do sangue. Cada um dos componentes tem causas diferentes. Os principais riscos de excesso de coagulabilidade são gravidez, uso de anticoncepcionais, tabagismo, câncer, obesidade, e algumas doenças da coagulação. O revestimento interno do vaso pode criar coágulos quando tem próteses, válvulas cardíacas ou é alterado por doenças inflamatórias. O fluxo por ser diminuído ou tornado turbulento quando a pessoa fica imobilizada, por exemplo em viagens, cirurgias, e especialmente em cirurgias ginecológicas e ortopédicas, de quadril e joelho, ou próximas de veias.
O tratamento precisa ser feito imediatamente com anticoagulantes, e com a eliminação das causas do problema. Ou seja, é necessário estabelecer com clareza quais componentes da tríade estão presentes em cada caso de embolia pulmonar e controlá-los. Enquanto esta investigação é realizada o paciente permanece anticoagulado. O tempo dependerá da causa que for estabelecida pela investigação.
Dr Paulo Bittencourt
Diretor Técnico da Dimpna
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