A crise de analgésicos opioides está afetando não apenas a população dos EUA, mas também as associações médicas, fabricantes e redes de drogarias. Nos anos 90, os fabricantes asseguraram à comunidade médica que os pacientes não se tornariam viciados em analgésicos opioides prescritos, e os profissionais de saúde começaram a prescrevê-los com maior frequência. Isso levou ao uso indiscriminado desses medicamentos, antes dos testes que mostravam que os analgésicos opioides poderiam ser perigosamente viciantes.
A história nos mostra que, em 2011, a overdose de opiáceos matou tanto quanto a overdose de cocaína nos EUA. Em 2017, cerca de 47.000 cidadãos norte-americanos morreram de overdose de opiáceos, incluindo analgésicos opioides prescritos, heroína e fentanil, um poderoso opióide sintético. “As drogas opióides prescritas (como a oxicodona e a hidrocodona) e a heroína funcionam através do mesmo mecanismo de ação. Os analgésicos opioides reduzem a percepção da dor pela ligação aos seus receptores, que são encontrados nas células do cérebro e outros órgãos do corpo. A ligação dessas drogas a receptores opióides em regiões de recompensa no cérebro produz uma sensação de bem-estar, enquanto a estimulação de receptores opioides em regiões cerebrais mais profundas resulta em sonolência e depressão respiratória, o que pode levar a mortes por overdose ”.
Ao longo dos anos, milhares de ações judiciais foram movidas contra fabricantes desses analgésicos opioides, como a Purdue Pharma. Redes de farmácias, como a Walgreens também foram afetadas e, nos últimos anos, associações médicas. Mas por que as associações médicas seriam culpadas pelo crescimento da crise dos opiáceos? Alegações de tratamento especial aos fabricantes de medicamentos opiáceos são o que motivam esses processos. As associações médicas são financiadas por terceiros, como fabricantes de medicamentos, fabricantes de dispositivos, companhias de seguros, etc. Essas associações permitem reuniões médicas com esses terceiros em seus distritos e publicidade de fabricantes de drogas e dispositivos em sua publicidade.
Em maio passado, a American Pain Society decidiu votar em uma petição de falência. Se a petição for aprovada, a Sociedade de 42 anos fechará suas portas indefinidamente em 2019 e se tornará a segunda associação relacionada à dor a fechar suas portas este ano.
Bruna Correa Antochevis Machado
Pain Society’s Expected Bankruptcy by Gina Shaw – Neurology Today vol 19
Opioid crisis: Only a US phenomenon? Gruyter, March, 2019