A morte do cantor Prince devido a acidente com analgésico opioide repetido, que não pôde ser atendido porque ele estava sozinho em sua imensa casa foi mais uma da epidemia que assola os EUA e já levou os governadores de vários estados a decretar emergência de saúde. Prince tinha sido levado a emergência de um hospital 6 dias antes por uma overdose do Percocet, um analgésico opioide não muito diferente do nosso Tylex. O xerife disse que Prince era um bom membro da comunidade, amigo dos seus funcionários, e bom empregador. Em Londres, o Presidente Obama disse que ele e o Embaixador começaram seu dia ouvindo Purple Rain e Delirious antes de iniciar os meetings bilaterais. Prince havia relatado que sofria de epilepsia durante a infância, segundo a Associated Press, e amigos contam que ele tinha problemas sérios com os quadris. Sua ex-percussionista, Sheila E contou que Prince sofreu o resultado de anos de pular no palco em shows e em ensaios, sempre usando saltos altos.
Como a maioria das pessoas, Prince não se envolveu com analgésicos opioides de bobo, idiota ou porque era artista. Nem teve o acidente somente devido ao uso da medicação. Como o caso de uma bela mulher de 30 anos que atendi semana passada em minha clínica, que teve 2 convulsões associadas com o uso de Tylex, ou como Heath Ledger, o artista que fez Coringa em um dos Batman, somaram-se os fatores para levar a um acidente fatal ou quase, como também ocorreu com Michael Jackson e tantos outros. No caso desta mulher ela trabalha em uma clínica, tinha acesso a medicamento, precisa ser linda pela sua função, fez um procedimento para o qual foi prescrito Tylex como se fosse um medicamento sem complicações, e ela nem sabe se teve convulsões quando era menina, mas deve ter tido. Ou nem foram convulsões, podem ter sido síncopes convulsivas, que são tão graves. Esta moça consultou de mini-saia e salto altíssimo, seu traje de trabalho no dia a dia, como muitos destes artistas.
O problema de Prince pode ter sido piorado por uma alegada gripe. A destruição dos quadris havia levado ao uso de sticks, aqueles bastões de andarilhos, já há bastante tempo. Ele havia recusado colocar próteses bilaterais. Misturar estes analgésicos opioides com algum antiepiléptico, ou não usar os antiepilépticos, predispõe para convulsões. É fácil entender porque teve morte súbita inesperada. Um homem assim não deveria morar sozinho em uma casa babilônica. Epilépticos tem risco de morte elevado comparado à população em geral, exatamente nesta situação. Pessoas assim precisam uma equipe com neurologista, psiquiatra especializado ou anestesista, ou talvez um intensivista, com equipamento, e alguém treinado no uso do equipamento, para sobreviver ao tipo de acidente que pode ocorrer.
Não deixe de gastar alguns minutos e assistir a uma de suas reconhecidas obras primas, um dos grandes solos de guitarra da história do rock, claro, numa música dos Beatles, em companhia da classe alta do rock internacional
Nenhuma destas pessoas, sejam os artistas que faleceram ou a bela mulher que me procurou após a complicação, foram orientados por médicos que tem conhecimentos sobre uso de medicamentos opiáceos em geral, ou analgésicos opióides em especial. Creio que este é o grande problema. Todos estes pacientes estão praticando o que os americanos chamam de doctor shopping, ou seja, eles obtém uma primeira receita de um cirurgião ou de um ortopedista, que inadvertidamente os torna viciados. Depois ficam obtendo re-receitas de médicos não especialistas em plantões ou em consultas com outras finalidades, para check-up disto ou daquilo, seja pelo seu charme pessoal ou pelo preço da consulta. Nenhum destes médicos tem o treinamento para reconhecer ou atender a dependência química. O resultado é este. É óbvio que a solução é retirar estes medicamentos, um procedimento que alguns médicos sabem realizar, e demora algum tempo.
Dr Paulo Bittencourt
Quando o erro médico é obedecer ao paciente: uma difícil aliança
Paulo Rogério Mudrovitsch de Bittencourt www.amazon.com
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